Pedro Cunha Lima (PSD), conhecido pelo discurso inflamado contra o atual modelo de gestão da Paraíba, deu mais uma amostra de que, na política, a prática costuma tropeçar no próprio discurso. Nesta sexta-feira (10), durante entrevista à TV Arapuan, o pré-candidato ao Governo do Estado em 2026 não descartou uma possível aliança com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena — figura central em uma gestão municipal amplamente atrelada ao governo que Pedro tanto diz combater.
A contradição é explícita. De um lado, Pedro classifica a administração estadual de João Azevêdo como um “formato de equívocos absurdos”. Do outro, abre espaço para compor chapa com um prefeito que, apesar de alegar um “rompimento” com a base governista, segue desfrutando de convênios, recursos e parcerias diretas com o Palácio da Redenção — e, mais que isso, já declarou voto em Azevêdo para o Senado.
“Se for o formato da continuidade desses equívocos, não conta comigo”, disse Pedro, numa tentativa de colocar limites morais no jogo político. Mas como enquadrar Cícero Lucena nesse raciocínio, se sua gestão caminha em total sintonia com o governador?
A fala de Pedro parece se apoiar mais na conveniência eleitoral do que em qualquer coerência ideológica. A busca por viabilidade política pode até justificar acenos a adversários, mas a narrativa de ruptura com o “velho modelo” começa a ruir quando o próprio candidato admite sentar à mesa com quem o representa.
Ao fim, a pergunta que fica é: o que exatamente Pedro Cunha Lima está propondo romper — o sistema, ou apenas a parte que não o favorece eleitoralmente?