Um possível caso de nepotismo cruzado envolvendo o presidente da Câmara Municipal de João Pessoa, vereador Dinho Dowsley (PSD), e o prefeito de Cabedelo, André Coutinho (Avante), está sendo apurado nos bastidores.
De acordo com informações do sistema Sagres Cidadão, do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PB), as esposas dos dois gestores ocupam cargos comissionados justamente nos órgãos comandados pelos respectivos aliados.
A primeira-dama de Cabedelo, Nathalia Coutinho, está nomeada como diretora financeira da Câmara Municipal de João Pessoa desde 1º de janeiro de 2025, com salário mensal de R$ 20 mil. Ela recebeu o valor integral em janeiro, fevereiro, março e abril, segundo os dados oficiais.
Já Giselly Lira, esposa do vereador Dinho, aparece no Sagres como Assessor Técnico Especializado na Prefeitura de Cabedelo, com admissão no dia 2 de janeiro de 2025. No mesmo mês, Giselly recebeu R$ 6.500,00 e em fevereiro um valor residual de R$ 1.418,65, totalizando R$ 7.918,65.
Resposta da Câmara e novo questionamento
Procurada, a assessoria da Câmara Municipal de João Pessoa afirmou que Giselly Lira não exerce cargo efetivo no município de Cabedelo, mas sim teria realizado uma capacitação pontual no início do ano, o que explicaria os pagamentos registrados em janeiro e fevereiro.
Entretanto, o que chama atenção — e gera questionamento — é o valor desembolsado pela Prefeitura de Cabedelo para essa suposta capacitação: mais de R$ 7 mil pagos à esposa do presidente da Câmara da Capital. Que tipo de capacitação técnica justifica esse gasto com recurso público? Em que área foi aplicada essa formação? Houve processo seletivo ou algum critério de escolha?
A prática em análise se encaixaria em nepotismo cruzado, que ocorre quando agentes públicos nomeiam parentes de outros políticos em seus respectivos órgãos, como forma de burlar a vedação constitucional ao nepotismo direto.
O cenário se agrava quando se considera que o prefeito André Coutinho segue sob medidas cautelares da Justiça Eleitoral, após ser alvo da Operação En Passant, que apura suposto esquema de cooptação do poder público por grupos criminosos.
Atualmente, Coutinho está proibido de manter contato com o ex-prefeito Vitor Hugo Castelliano e cumpre recolhimento domiciliar noturno, medidas que visam preservar as investigações e evitar a destruição de provas.

