A política paraibana vive, mais uma vez, um daqueles capítulos que testam a paciência, e a memória, do eleitor. O senador Veneziano Vital do Rêgo e o ex-deputado Pedro Cunha Lima, que há pouco mais de um ano se posicionaram abertamente contra a reeleição de Cícero Lucena à Prefeitura de João Pessoa, agora surgem como entusiastas de seu nome para governar a Paraíba. A mudança repentina de discurso causa, no mínimo, estranheza. Afinal, se o gestor não era digno de confiança para seguir administrando a capital, como pode, de uma hora para outra, ser considerado qualificado para comandar todo o estado?
O eleitor não é ingênuo. A população lembra bem que, durante a campanha municipal passada, ambos os líderes políticos elencaram críticas e reservas ao projeto administrativo de Cícero. Hoje, porém, parecem dispostos a reescrever suas próprias palavras, apresentando-o como uma espécie de solução estadual. Essa virada brusca levanta dúvidas legítimas sobre coerência, convicção e responsabilidade. Política não pode ser apenas o jogo do momento nem a dança das conveniências; precisa ser sustentada por princípios minimamente sólidos, sob risco de desmoralizar o debate público e afastar ainda mais o cidadão da vida política.
A verdade é que a Paraíba não merece discursos moldados ao sabor das circunstâncias. O estado precisa de líderes que mantenham firmeza nas suas posições, que defendam ideias e projetos com consistência, e não que mudem de opinião como quem troca de camisa. O povo paraibano, atento e exigente, quer saber: o erro estava no passado ou está no presente? A incoerência não passa despercebida, e a pergunta permanece ecoando: se Cícero não servia para ser prefeito, por que agora serviria para ser governador?
Essa reflexão é necessária não apenas sobre os nomes em questão, mas sobre a maturidade da política paraibana. O eleitor merece respeito, clareza e coerência. E, nesses requisitos, o novo discurso dos que ontem eram críticos e hoje viraram aliados deixa muito mais dúvidas do que respostas.
