Por mais que ainda estejamos longe do período oficial de campanha, é impossível ignorar os sinais claros de movimentação eleitoral. E, entre os que mais têm se deslocado pelo estado, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), vem se destacando — não pela gestão da capital, mas por sua intensa agenda de visitas, encontros e participações em eventos estratégicos pelo interior da Paraíba.
Cícero, reeleito com folga em 2024, ainda nem completou um ano de seu segundo mandato e já age como se estivesse em plena disputa para o Governo do Estado. O questionamento que fica é: quem está bancando essa pré-campanha disfarçada de agenda institucional?
Os deslocamentos da comitiva envolvem logística, combustível, motoristas, alimentação e hospedagem. Quem abastece os veículos? Quem paga os almoços e jantares? São servidores da Prefeitura que acompanham o prefeito nessas viagens? Tudo sai do próprio bolso ou há estrutura da máquina pública envolvida? São dúvidas legítimas que merecem resposta transparente — até porque o contribuinte pessoense tem o direito de saber se a estrutura pública municipal está sendo usada para fins políticos e pessoais.
Enquanto circula por Campina Grande, Patos e outras cidades do estado — em agendas que mais parecem roteiros de palanque —, João Pessoa segue com inúmeros problemas pendentes: buracos nas ruas, obras atrasadas, precariedade na saúde pública e gargalos no transporte coletivo. A sensação é de que o prefeito só deixou de viajar quando ficou preso no bunker em Israel, durante os ataques no Oriente Médio. E mal desembarcou no Brasil, já estava de volta ao Sertão — desta vez para a abertura do São João de Patos. No fim de semana, apareceu sorridente em Campina Grande, circulando pelo Parque do Povo e pela Vila do Artesão, onde posou ao lado do médico Jhony Bezerra (PSB).
Nada contra prestigiar festas populares. Mas não seria o caso de concentrar mais energia em governar a capital para a qual foi reeleito? João Pessoa enfrenta desafios complexos que exigem dedicação em tempo integral — e não uma prefeitura administrada por WhatsApp, enquanto o gestor investe em articulações eleitorais pelo interior.
Mais do que uma crítica, o tom aqui é de alerta: a população não elegeu Cícero para ser um pré-candidato itinerante, mas para ser prefeito em tempo integral da maior cidade da Paraíba. A impressão que fica é que a pressa para deixar Israel não foi apenas pela tensão do conflito, mas pelo medo de perder espaço na disputa de 2026 para outros nomes, como o do vice-governador Lucas Ribeiro (PP), que já vem se consolidando como opção dentro do mesmo partido.
Se o foco de Cícero é mesmo o Governo do Estado, que deixe claro — e arque com os custos dessa escolha. Até lá, a sociedade paraibana continuará se perguntando: quem está bancando essa pré-campanha antecipada? A prefeitura? O partido? Ou o próprio bolso do prefeito?