Por mais que a Série C do Campeonato Brasileiro seja um torneio desafiador e, muitas vezes, ingrato com quem chega sem conhecer suas peculiaridades, o cenário atual do Botafogo-PB ultrapassa os limites da preocupação. Com mais uma derrota — desta vez para o Caxias, no Almeidão — o Belo se aproxima perigosamente da zona de rebaixamento, e as declarações de Alexandre Gallo, CEO da SAF, em entrevista recente, soam cada vez mais incompatíveis com a realidade em campo.
Na coletiva da semana passada, Gallo adotou um tom agressivo e soberbo, mirando críticas pesadas às gestões anteriores do clube e destacando feitos da SAF. Sem dúvida, é fato conhecido que erros administrativos e, principalmente no futebol, marcaram o passado do Botafogo-PB, mas é igualmente fato que, mesmo com orçamentos modestos e estrutura limitada, essas administrações jamais rebaixaram o clube, tendo inclusive alcançado classificações para o quadrangular decisivo em temporadas passadas.
A realidade atual é diferente — e mais perigosa. Com um projeto SAF que promete profissionalismo, estrutura e investimentos, o que se vê é um time desorganizado, um elenco que não entrega e uma campanha pífia. O técnico Márcio Fernandes, após a derrota deste sábado, foi direto: agora, o objetivo é não cair para a Série D. Um alerta claro de que o discurso não se sustenta diante da performance.
Alexandre Gallo, com currículo ligado à elite do futebol nacional, parece desconectado da realidade da Série C e do futebol periférico brasileiro. O campeonato exige leitura tática, jogadores adaptados ao cenário, entendimento do calendário e sobretudo humildade. Não basta falar em projeto de Série A se o campo mostra outra história.
Além disso, o comportamento do principal investidor da SAF, Fillipe Félix, nas redes sociais, reforça o desalinhamento entre expectativa e realidade. As promessas grandiosas e a constante autopromoção digital não se traduzem em reforços à altura, nem em resultados dentro de campo. Até agora, o que a SAF entregou foi uma nova camisa e algumas pequenas melhorias estruturais — importantes, mas insuficientes frente ao que se esperava no futebol.
Talvez a hora seja de menos exposição e mais trabalho. O fato é que o futebol é medido em desempenho e resultados, não em discursos inflamados. Se há falhas herdadas do passado, agora há também responsabilidade no presente. E é preciso assumir isso com maturidade.
O momento exige menos discursos sobre o passado e mais atenção ao presente. Diante de um cenário delicado, o Botafogo-PB enfrenta o risco real de um rebaixamento inédito em sua história recente — um contraste alarmante com os recursos milionários anunciados pela SAF e com as promessas feitas pelos mesmos. O discurso de reconstrução precisa começar a se refletir também dentro de campo.