Uma farmácia registrada em um terreno baldio, mas com número de telefone vinculado à cidade de João Pessoa, está entre os alvos de uma investigação da Polícia Federal que desarticulou um esquema nacional de desvio de recursos do programa Farmácia Popular. Segundo a PF, o grupo criminoso utilizava farmácias de fachada para lavar dinheiro do tráfico de drogas e financiar a compra de cocaína na Bolívia e no Peru.
A farmácia em questão aparece com endereço fictício e telefone em nome de Célia Aparecida de Carvalho, apontada como fornecedora de CNPJs para o esquema. Ela é investigada por fornecer estruturas de empresas fantasmas para viabilizar os desvios, inclusive utilizando dados de João Pessoa na documentação de farmácias que nunca existiram.
Ao todo, a organização criminosa teria desviado quase R$ 40 milhões dos cofres públicos. O esquema envolvia o uso de CPFs e endereços de pessoas inocentes, compra e venda de empresas por laranjas e repasses de verbas públicas para fachadas fraudulentas.
As investigações começaram com a apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia (GO), que levaram à prisão de Clayton Soares da Silva — dono de farmácias no Rio Grande do Sul e em Pernambuco. A partir do conteúdo do celular de Clayton, a PF chegou até Fernando Batista da Silva, o “Fernando Piolho”, apontado como líder da organização criminosa.
Segundo a Polícia Federal, o grupo mantinha ligação com integrantes do Comando Vermelho e com o Clã Cisneros, organização criminosa peruana especializada na produção de cocaína. O dinheiro desviado por meio do Farmácia Popular era usado para movimentar a cadeia do tráfico internacional.
“Essa organização criminosa utilizou o programa Farmácia Popular para fazer a lavagem desses recursos. Posteriormente, ela passou a utilizar esse programa social para investir no próprio tráfico de drogas”, explicou o superintendente da PF do Distrito Federal, José Roberto Peres.
As investigações seguem em andamento e novas fases da operação devem ser deflagradas nos próximos meses.