É impossível falar do Botafogo-PB nos últimos meses sem esbarrar em uma figura que, pouco a pouco, vem ocupando um protagonismo que parece ir além de sua função: Filipe Félix, um dos sócios investidores da SAF que hoje administra o clube. Entre promessas ousadas, discursos inflamados e presença quase diária nas redes sociais, surge a pergunta: Filipe quer construir um clube de Série A ou uma imagem de influencer do futebol?
O empresário parece funcionar como um verdadeiro encantador de serpentes. Sua fala é cativante, empolgante, com aquele tom de “coach” moderno que mistura motivação com promessas quase megalomaníacas. Já declarou que o Botafogo-PB será o maior time do eixo Paraíba–Pernambuco, que o clube tem “potencial para ser top 3 do Nordeste” e que está investindo de R$ 10 a R$ 15 milhões para construir um CT padrão Série A. No papel, tudo parece lindo. Mas até que ponto essa empolgação está alinhada com a realidade do clube e, mais importante, com uma comunicação responsável?
Filipe tem se colocado como o rosto mais visível da SAF. Enquanto os demais sócios preferem o silêncio estratégico e o CEO Alexandre Gallo adota uma postura mais institucional, Filipe aparece em stories, dá entrevistas e grava vídeos para falar com a torcida. Essa exposição poderia ser vista como positiva, se não escorregasse nos próprios excessos.
O exemplo mais recente: disse em seu Instagram, em alto e bom som, que “time grande não vende mando de campo”, ao justificar que recusaram uma proposta de R$ 6 milhões para vender o mando de campo contra o Flamengo pela Copa do Brasil. Mas dois dias depois, o clube anunciou que 40% da capacidade do Almeidão será destinada à torcida do Flamengo. O setor Sol Leste inteiro entregue ao adversário. Que time grande faz isso em casa? Dividir o estádio com o Flamengo não parece exatamente o comportamento de quem quer se firmar como “clube de Série A”.
Diante da polêmica, Filipe Félix fez uma publicação alegando que a decisão não caberia à SAF, por se tratar de um estádio público. Segundo ele, foram sugeridas três alternativas para a divisão do espaço, mas todas “esbarraram nas normas de segurança pública e do Corpo de Bombeiros”. Disse ainda: “A SAF sempre estará com a torcida, mas não tem como quebrar regras e leis do estado”.
A resposta, no entanto, foi contestada publicamente pelo comandante-geral da Polícia Militar da Paraíba, coronel Sérgio Fonseca, que declarou:
“Em relação ao quantitativo de carga, isso não passa pela decisão da Polícia Militar. A PM apresenta suas ponderações e o time de futebol vê a viabilidade”.
A declaração colocou em xeque o discurso de que a SAF teria ficado de mãos atadas diante das regras dos órgãos de segurança.
E a situação vai além das arquibancadas. Ao justificar o alto preço dos ingressos no primeiro jogo da Série C (com valores que chegaram a R$ 140,00), Filipe gravou stories como se fosse um torcedor justificado pelo coração, dizendo que o valor será revertido para a construção do CT. É um bom argumento? Pode até ser. Mas isso deveria vir do clube, por meio de um canal oficial, e não de um dos sócios usando rede social como se fosse um blogueiro do futebol paraibano. Se a SAF quer ser tratada como empresa, precisa se portar como tal — com comunicação alinhada e profissionalizada.
Talvez tudo isso faça parte de uma estratégia: colocar Filipe como o “homem da torcida”, aquele que se comunica diretamente com o público e “vende” o projeto SAF. Pode até funcionar no curto prazo. Mas, se continuar assim, o excesso de fala e a falta de coordenação podem transformar um investidor entusiasmado em um agente do caos.
O torcedor do Botafogo da Paraíba não quer promessas fáceis ou discursos bonitos. Quer respeito, organização e resultado. E se Filipe quiser mesmo ajudar o clube, talvez o melhor caminho seja trocar o figurino de influencer pela postura de sócio investidor que trabalha nos bastidores — onde as grandes conquistas, de fato, são construídas.